
Francoforte, Tolosa, Aquisgrano, Angorá, Baçorá
Tal como Oporto está a começar a cair em desuso no inglês, também nós temos exónimos que já não usamos. Por exemplo Francoforte, Tolosa, Aquisgrano, Angorá. Se o primeiro ainda é reconhecido como o nome português de Frankfurt, já poucos saberão que Tolosa é Toulouse, em França, Aquisgrano é Aachen, na Alemanha e, por fim, Angorá é Ancara, capital da Turquia. A visão que uma língua — neste caso o português — tem sobre o mundo vai mudando. Por vezes, as cidades estrangeiras merecem um nome português; mais tarde, por motivos nem sempre claros, o nome original serve perfeitamente. Ninguém … Continuar a ler Francoforte, Tolosa, Aquisgrano, Angorá, Baçorá
Oporto
Porque se diz “Oporto” em inglês? Pela mesma razão que dizemos “Algarve” e não “Garve”, Alcácer e não “Cácer”, e por aí fora. Por vezes, ao criar exónimos (nomes de terras em línguas estrangeiras), as línguas assumem o artigo da língua original como parte do nome dessa terra. Foi o que aconteceu com o espanhol e o inglês, no caso do Porto. Como, normalmente, os exónimos só existem em caso de cidades com alguma importância, na perspectiva da língua em que ocorrem, só temos de nos orgulhar com “Oporto” — e não reclamar, como por vezes acontece, como se os … Continuar a ler Oporto
Apenas
Apenas é um daqueles falsos amigos espanhóis muito complicados. Quer dizer muita coisa e raramente o mesmo que em português. Reparem: “Apenas bajé a la calle, se puso a llover.” — “Logo que saí à rua, começou a chover.” “Por la ventana apenas entraba el sol.” — “Pela janela mal entrava o sol.” As frases originais baseiam-se nos exemplos do Diccionario de la Lengua Española da RAE. Continuar a ler Apenas
O comer
As palavras têm muita manha. A mesma palavra pode ser aceitável ou não dependendo da região e meio social em que nos movemos — e da classe gramatical a que a própria palavra pertence. Por exemplo, a palavra “comer”, enquanto substantivo, é usada em quase todo o país sem levantar celeuma — mas há regiões e meios sociais que lhe torcem o nariz. Se for verbo, já todos comem a palavra sem pestanejar. Em termos de correcção linguística, nada há a obstar à palavra usada enquanto substantivo: também dizemos “o saber não ocupa lugar”. As palavras saltam as classes gramaticais … Continuar a ler O comer
Antidisestablishmentarianism
Na nossa dose diária de palavras, continuamos com aquela que muitos dizem ser a maior palavra da língua inglesa: antidisestablishmentarianism. O significado é muito específico. É algo como “movimento que se opõe à separação entre a Igreja e o Estado [em Inglaterra]“. A palavra existe porque, em Inglaterra existe uma igreja instituída, integrada no Estado — a Igreja Anglicana. (O mesmo não acontece no País de Gales e Irlanda do Norte; na Escócia, a situação é mais complexa.) Como em tudo, há quem não concorde e defenda a separação entre a Igreja e o Estado. Paralelamente, há quem defenda a manutenção … Continuar a ler Antidisestablishmentarianism
Empanzinar
Uma palavra por dia, não sabe o bem que lhe fazia… Empazinemos, pois, palavras, todos os dias. Mal não faz — e pode ser mais do que uma por dia. Empanzinar. Abarrotar, enfartar, enganar, fartar-se. — Dicionário de Sinónimos, Porto Editora (2.ª Edição). “Baixava a voz numa confidência: — É só abrir a boca e comer, meu velho, comer até empazinar. . . Ria em risadinha curtas, saboreando seu dito…” — Os Subterrâneos da Liberdade, Jorge Amado “19 deputados foram acusados de empazinar-se com recursos ilícitos do chamado valerioduto.” — Folha Online Continuar a ler Empanzinar
Bem-vindos a პორტუგალია!
O nome de Portugal pode ter um aspecto muito estrangeiro. Talvez o grego Πορτογαλία e o russo Португалия não sejam assim tão estranhos, principalmente se soubermos que, nos alfabetos grego e cirílico, “Π” é “P” e “P” é “R”. Já se dermos um salto ao Cáucaso, temos o surpreendente e redondíssimo georgiano, em que o nome do nosso país é პორტუგალია. Um pouco abaixo, o arménio parece utilizar apenas “u”, “n” e “m” em várias direcções e feitios: Պորտուգալիա . O árabe البرتغال é um deslizar de arabescos (neste ponto, um adolescente diria “dââh!”). No oriente, o tailandês ประเทศโปรตุเกส lembra um … Continuar a ler Bem-vindos a პორტუგალია!
dactylographiassions
Dactylographiassions. Primeira pessoa do plural do imperfeito do subjuntivo do verbo “dactylographier”, em francês. Em português, seria “dactilografássemos”. Com o “y” e o “ph”, esta forma francesa tem o seu quê de portuguez de oitocentos, com os seus lyrios, as suas pharmacias, as suas chronicas, toda essa orthographia anterior à assignatura de qualquer accordo. Continuar a ler dactylographiassions
Palavra, palabra, paraula, hitza, mot, parola, beseda, riječ, szó, cuvânt, слово, слова, žodis, vārds, sõna, sana, слово.
Façamos uma viagem de Lisboa até Moscovo, usando não um avião, mas a palavra “palavra”, por um dos muitos percursos possíveis. Começamos no português palavra, para termos, logo a seguir, o castelhano, com a pequena troca dum “v” por um “b”: palabra. Passamos ao catalão paraula, já a soar a além-Pirenéus, depois fazemos um desvio exótico pelo basco hitza, que interrompe as suaves transições latinas e não lembra a ninguém. Ainda nem saímos da península. Depois dum peculiar mot francês (sabendo nós que há uma “parole” com outros significados – os terríveis falsos amigos), continuamos pelo italiano parola, que lembra … Continuar a ler Palavra, palabra, paraula, hitza, mot, parola, beseda, riječ, szó, cuvânt, слово, слова, žodis, vārds, sõna, sana, слово.