As palavras dão muitas voltas. A palavra ordinário, por exemplo, quer dizer muitas coisas: “dentro da ordem prevista”, “normal”, “vulgar” e “reles”. Podemos utilizar em expressões como “assembleia ordinária” e “homem ordinário”.
Como conseguimos ir de “reunião dentro da ordem prevista” a “homem reles” numa só palavra?
Uma hipótese: sendo aquilo que está dentro da ordem prevista algo “vulgar” (=”comum”), logo passámos ao significado “vulgar=reles” — e, assim, temos “ordinário” enquanto “reles”.
Claro que o caminho que a palavra fez, de facto, ao longo da sua história pode ter sido diferente. Um dicionário etimológico esclarecerá esta dúvida.
De qualquer forma, este exemplo mostra-nos que temos de evitar o purismo terminológico, que leva algumas pessoas a criticarem certos usos porque estes não se enquadram na origem da palavra. As palavras ganham significados como quem vai à loja e começa a escolher roupas novas, ao sabor do capricho — ou, pelo menos, do uso criativo que os falantes lhes vão dando. Todos nós inventamos ao falar e mudamos subtilmente a língua a cada conversa. Sempre assim foi e dificilmente deixará de ser. Um mundo em que as palavras mudam assim é bem melhor que um mundo onde as palavras vestem uniforme.
P.S. Tentamos ter um post neste blogue todos os dias. Este é, portanto, um post ordinário. Acontece.